Segundo um levantamento realizado pelo site Quero Bolsa com 13 mil instituições de ensino ao redor do Brasil em 2020, o valor médio da mensalidade de escolas particulares no estado de São Paulo é de R$ 800, no ensino infantil, e de R$ 1.219, no ensino médio. Os valores ficam atrás apenas daqueles encontrados no Distrito Federal, a R$ 906 e R$ 1.251, respectivamente.
A lista da Forbes das escolas mais caras do país em 2021, porém, evidencia que os custos também podem ser exorbitantes, com mensalidades que ultrapassam R$ 6 mil e R$ 10 mil nessas modalidades. Considerando esses valores, para as classes mais altas, é possível afirmar que o custo de criar um filho pode chegar ao dobro daquele encontrado na classe B.
“Nas regiões metropolitanas, as despesas essenciais, como alimentação e moradia, são mais elevadas, e existe uma maior competição por serviços mais baratos ou públicos. Colocar o seu filho em uma escola pública na metrópole dá mais trabalho do que no interior”, comenta Juliana.
“Mas há nuances que precisam ser consideradas”, complementa. “Existem prefeituras no interior que investem bastante em educação, e isso faz com que o gasto para os pais seja menor. Por outro lado, há prefeituras que investem pouco em saúde. Então, você pode ficar refém do serviço privado. Porém, é verdade que a própria limitação do acesso a alguns tipos de bens e serviços no interior pode diminuir as despesas totais.”
Os gastos não são uniformes ao longo desses 24 anos, e ambos os professores avaliam que o final da infância e início da adolescência, abrangendo as idades de sete a 14 anos, são os mais caros. É nessa época em que as crianças começam a apresentar mais autonomia, que se reflete na expansão dos gostos e interesses e, por consequência, na possível elevação do consumo. É também durante esse período que começam a surgir custos adicionais, como aparelhos ortodônticos e outras especificidades médicas que exigem tratamento.
A partir dos 16 anos, uma parte dessa população passa a ingressar em programas como Jovem Aprendiz, contribuindo com a renda familiar e fazendo com que os gastos dos pais diminuam progressivamente. Isso, porém, parte do pressuposto de que o ensino superior será gratuito, ou de que o adolescente irá contar com algum tipo de bolsa de estudos durante a faculdade. Se esta etapa da educação formal for paga, considerando quatro anos de graduação, os gastos podem ultrapassar R$ 100 mil durante esses últimos anos.
Mas nas famílias com mais de um filho, o custo total por cada um deles costuma ser menor. “A tendência é que o custo diminua com o segundo ou o terceiro filho, porque a estrutura fundamental, o espaço e o mobiliário, já está lá. Você também consegue negociar valores mais atrativos na escola, no curso de inglês, no clube. O material escolar também pode ser reaproveitado ou sai por um preço melhor”, diz Juliana. “Fora que, com os próximos filhos, você já tem um conhecimento maior do que é necessário e o que é supérfluo. Não há mais tantos excessos.”
Importância do planejamento
Segundo dados da UNFPA (Fundo de Populações das Nações Unidas) referentes a 2021, o Brasil está passando por uma queda acentuada na taxa de fecundidade, que representa o número de filhos por mulher. Enquanto, no final da década de 1960, esse número chegou a ser de seis, hoje ele está em 1,7. Neste quesito, o país inclusive está abaixo da média mundial, que é de 2,4 filhos por mulher.
Embora os dados sejam indício de que projetos de educação sexual e planejamento familiar estão sendo efetivos, Adriana Maluf, CFP® (Certified Financial Planner) da empresa SuperRico, argumenta que o brasileiro ainda não tem o hábito de avaliar corretamente os gastos envolvidos na criação de um filho antes de tomar a decisão final, mesmo depois que a pandemia mostrou que possuir uma reserva emergencial, por exemplo, é imprescindível.
“As pessoas subestimam os gastos. Muitas inclusive acreditam que a renda só é impactada por gastos expressivos, e não se dão conta que gastos mais baixos, quando somados no final do mês, acabam sendo maiores do que se esperava”, afirma. “É muito importante manter uma planilha de fluxo de caixa para conhecer quais os nossos ‘ralos’ e como estamos usando o nosso dinheiro.”
De acordo com a planejadora, existe uma regra de “50, 30, 20” que pode ser levada em conta para controlar esse fluxo: 50% da renda deve ser usada com despesas essenciais, 30% com despesas sociais, e 20% com despesas para compor renda futura, ou seja, a reserva de emergência.
“Como tudo da vida, o planejamento é fundamental”, destaca. “O ideal é que as pessoas que pretendem ter filhos façam uma reserva de emergência um a dois anos antes do nascimento da criança, para conseguir proporcionar um bom enxoval sem se endividar. É importante também listar todos os possíveis gastos mensais que serão somados aos já existentes após o nascimento, como um bom plano de saúde, remédios, fraldas, alimentação, vitaminas, roupas, babás e higiene. Esses gastos devem ser considerados em uma planilha como custos fixos. Dessa forma, os pais que possuem uma renda mais enxuta terão que reavaliar os seus próprios gastos pessoais.”
Juliana Inhasz, do Insper, faz um adendo aos casais que planejam ter filhos. Segundo ela, embora a tendência seja de os custos com educação permanecerem prevalentes, cada vez mais gastos com serviços de streaming, cuidados corporais e saúde mental vão despontar nas contas mensais. “Haverá uma mudança qualitativa dessas despesas, com serviços que não eram tão preponderantes há alguns anos. A pandemia reforçou muito essas tendências, e toda nova geração também vem com valores diferentes da anterior.”
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